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O avanço do leite do Sul: um sinal confirmado de mudança estrutural

POR ANDRE ROZEMBERG PEIXOTO SIMÕES

ANDRE ROZEMBERG

EM 23/04/2024

5 MIN DE LEITURA

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Nesse artigo vou apresentar uma evidência importante de como o avanço da produção de leite na região Sul está se constituindo em uma mudança estrutural no setor lácteo nacional. Para isso usarei os dados mensais de captação de leite da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE de janeiro de 2005 a dezembro de 2023 e aplicarei algumas ferramentas estatísticas. A análise será focada nas regiões Sudeste e Sul, pois juntas, representam cerca de 75% do leite produzido no país.

Antes de iniciar a apresentação dos dados, preciso definir dois tipos de mudanças que podem acontecer em um sistema: as mudanças estruturais e as mudanças conjunturais. Para isso, eu pedi a ajuda de uma inteligência artificial e a resposta foi bem precisa:

“As mudanças estruturais são modificações profundas e de longo prazo em um sistema, seja ele econômico, social ou político. Essas mudanças geralmente têm um impacto significativo e duradouro.”

“As mudanças conjunturais são ajustes de curto prazo feitos em resposta a eventos específicos. Embora possam ter um impacto significativo no momento, elas não alteram a estrutura fundamental de um sistema como as mudanças estruturais.”

Portanto, mudanças estruturais da produção de leite são aquelas que tendem a perdurar nos próximos anos e que representam modificações importantes para a cadeia de lácteos nacional.

Então, vamos aos fatos:

O primeiro fato a ser observado é a diferença do padrão sazonal entre as regiões do país. Note no Gráfico 1, que na região Sudeste a maior produção de leite se concentra nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Na região Sul, isso acontece nos meses de agosto e setembro. Já os menores volumes de produção coincidem no mês de maio para ambas as regiões.

Além disso, chama atenção que a sazonalidade da região Sul tem maior amplitude (diferença entre maior e menor valor) que as demais regiões. Para aqueles que gostam de um pouco mais de estatística, eu calculei a média dos coeficientes de variação anual (de 2005 a 2023) para as regiões: Sul 8,9%, Sudeste 6,1%, Centro-oeste 9,6% e Nordeste 5,6%.

Gráfico 1. Índice do padrão sazonal das principais regiões produtoras de leite no Brasil, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2023*.

 Índice do padrão sazonal das principais regiões produtoras de leite no Brasil, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2023*
* Valores representam a média da captação de leite de cada mês no período de jan-2005 a dez-2023.

Para evidenciar o segundo fato, irei usar o indicador Média Móvel (MM) que é muito utilizado no mercado financeiro para apontar mudanças de direção ou tendência nos preços. A MM tem como principal característica ser pouco sensível a variações de curto prazo, sendo útil para captar efeitos de mudanças estruturais que tendem a se perpetuar ao longo do tempo. Um detalhe que vai nos ser útil adiante é que nas análises do mercado financeiro, o cruzamento de duas MM representa um sinal claro de mudança de tendência.

No nosso caso, a MM será utilizada para mostrar as mudanças das trajetórias da produção de leite no Brasil. No Gráfico 2, podemos observar o comportamento da participação de cada região na produção total do país. As linhas mais finas representam a participação de cada região no total produzido no Brasil e as linhas mais grossas as suas respectivas MM de 12 meses.

Observe que a tendência da participação da região Sudeste na produção total é de redução (MM vermelha apontando para baixo), enquanto a da região Sul é de crescimento (MM azul apontando para cima).

Note um detalhe importante. A primeira vez que a região Sul teve uma participação maior que a região Sudeste foi no ano de 2012. Isso se repetiu em 2014 e nos anos de 2016 a 2020. No entanto, a mudança estrutural provocada pelo avanço da produção do Sul só pôde ser confirmada a partir de 2021, quando se observa o cruzamento das MM e a linha da região Sul (azul) passa a ficar acima da linha da região Sudeste (vermelha).

Gráfico 2. Participação percentual das regiões do Brasil na produção total de leite, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2023.

Participação percentual das regiões do Brasil na produção total de leite, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2023.

Mas como a recente dominância da região Sul está impactando o padrão da sazonalidade nacional?

A resposta dessa pergunta está no Gráfico 3 que representa a variação percentual mensal da produção nacional de leite de 2005 a 2023. A ideia do gráfico é identificar mudanças no padrão ao longo do tempo, observando a direção e o tamanho das barrinhas coloridas em cada coluna.

Gráfico 3. Variação mensal da produção de leite no Brasil, no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2023.

grafico

Note a modificação do padrão da coluna Set/Out. No início, entre 2005 e 2013, a variação foi sempre positiva, o que está alinhado com a dominância do padrão da região Sudeste. Depois, até 2019, a variação passa a oscilar entre valores positivos e negativos. Finalmente, entre 2020 e 2023 a variação fica praticamente neutra, coincidindo com o crescente aumento da dominância do padrão sazonal do Sul. Complementando, note que as colunas Out/Nov, Nov/Dez seguem o mesmo padrão de redução da variação mensal ao longo dos anos. Já na coluna Dez/Jan note que ocorre a predominância de redução na produção a partir do ano de 2015.

Por último, e para não ser negligente neste artigo com um exemplo de mudança do tipo conjuntural, note o que aconteceu com a variação mensal no ano de 2018. Claramente observa-se um movimento atípico e pontual entre os meses Abr/Mai (-10%) e Mai/Jun (+11%). Isso se deveu ao impacto da greve dos caminhoneiros ocorrida naquele ano, que apesar de ter sido importante, não promoveu modificações nos períodos seguintes após o seu término.

O que podemos concluir então?

Na medida em que o leite do Sul ganha espaço, o seu padrão sazonal ganha mais força na determinação do comportamento médio da produção Brasileira. Essa predominância se confirmou a partir de 2021, quando o Sul passou a ser, consistentemente, a região de maior participação do total produzido.

A tendência aponta que a região Sul vai continuar ganhando participação na produção nacional, até um certo limite. Isso poderá mudar ainda mais o comportamento da produção nacional e poderá afetar, por exemplo, o comportamento dos preços praticados no mercado.

No longo prazo, deve-se considerar a dinâmica de crescimento das demais regiões, principalmente a região Nordeste que tem um padrão sazonal diferente das demais. Mas isso pode ser assunto para um próximo artigo.

 

Se o tema despertou seu interesse e você deseja aprofundar seu conhecimento sobre a produção no sul, participe do Interleite Sul 2024, nos dias 8 e 9 de maio, em Chapecó/SC.

Junte-se aos principais especialistas do setor e não perca a oportunidade de ampliar seus conhecimento sobre a produção leiteira sulista e o mercado que a permeia. Para mais detalhes sobre a programação do evento, consulte o site oficial clicando aqui.

 

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ANDRE ROZEMBERG PEIXOTO SIMÕES

Zootecnista, Doutor em Economia Aplicada. Professor na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS.

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ANTÔNIO CARLOS FURTADO DE ARAÚJO

RITÁPOLIS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/04/2024

Sou produtor e acho que essas informações são fundamentais para todos nós produtores.
MARCO ANTONIO COUTO

PIRACEMA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA LATICÍNIOS

EM 24/04/2024

Muito bom artigo Drº. André. Valeu por compartilhar seu conhecimento e nos atualizar do que esta acontecendo no cenário nacional do leite.
PAULO XAVIER

TOMAZINA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/04/2024

Muito boa a materia

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