ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Impacto econômico das parasitoses de bovinos

POR DANIEL SOBREIRA RODRIGUES

E ROMÁRIO CERQUEIRA LEITE

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 02/06/2014

6 MIN DE LEITURA

7
0
Utilizar um espaço como este para discorrer sobre o impacto econômico das parasitoses de bovinos é, de fato, uma grande oportunidade para discutir e disponibilizar dados e informações encontradas em estudos de circulação restrita à comunidade científica. O tema interessa a muita gente, e com razão.

A eficiência econômica é fundamental e será sempre um dos principais objetivos de qualquer atividade de produção, industrialização e comércio, além de ser um dever da administração pública.

Com relação às doenças parasitárias, acredita-se que não existem rebanhos comerciais brasileiros livres do problema; e esses rebanhos são responsáveis pela segunda maior produção de carne e a quinta maior, de leite, do mundo.

No Brasil, o mercado de produtos farmacêuticos veterinários possui um faturamento próximo de quatro bilhões de reais ao ano. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal – SINDAN, 25% desse valor corresponde à classe terapêutica dos antiparasitários e, 56%, a produtos destinados ao uso em ruminantes. Medicamentos e pesticidas dessa classe terapêutica são empregados em larga escala na pecuária bovina e representam uma fatia importante do mercado.

Diante disso, é possível imaginar que as perdas provocadas pela ação dos parasitos devem ser mais do que significativas.


Antes de se discutir a forma e a dimensão de como isso ocorre, é preciso diferenciar os termos “impacto econômico” de “prejuízo financeiro”, pois são comumente aplicados como se tivessem o mesmo significado.

O fato de uma enfermidade promover perdas financeiras não garante que a adoção de medidas e aplicação de recursos para seu combate terá como conseqüência a recuperação total ou parcial do prejuízo estimado. Por exemplo, se o valor a ser investido em campanhas, treinamentos, equipamentos ou que mais for necessário para se atingir um determinado objetivo, for igual ao valor das perdas, o leitor deverá concordar que não será obtido retorno financeiro algum.

Embora as avaliações de prejuízos financeiros constituam etapa inicial das avaliações de impacto econômico, são consideradas insuficientes para orientar tomadas de decisão por parte da administração pública, pois não quantificam o retorno potencial da adoção de medidas e alocação de recursos. Para esse fim, as avaliações de impacto econômico são consideradas a alternativa mais adequada, pois são estudos mais amplos e consideram, entre outras questões, também os aspectos não financeiros das relações de custo-benefício e o retorno para toda a sociedade, não apenas para os setores diretamente envolvidos.



Para a realização de trabalhos dessa natureza é reconhecida a necessidade de uma equipe multidisciplinar, com participação de especialistas em Parasitologia Veterinária, Epidemiologia e Economia.

Não existem avaliações de impacto econômico das parasitoses de bovinos realizadas no Brasil. Existem diversos estudos que consideram aspectos econômicos e financeiros, mas não de impacto econômico.

Bem... E isso quer dizer que os estudos disponíveis atualmente não servem para nada?

Obviamente que não. Isso quer dizer que algumas pessoas e instituições estão utilizando as ferramentas que dispõem e se esforçando para sensibilizar a sociedade e a administração pública de que é preciso fazer algo a respeito do assunto. Uma questão dessa magnitude, que movimenta tanto recurso e que tem sérias implicações para a sociedade, merece atenção do poder público.

Todos os países ditos desenvolvidos e muitos daqueles classificados como subdesenvolvidos, emergentes ou qualquer outra classificação que se deseje utilizar, afetados pelo problema, criaram políticas públicas e/ou regulamentaram atividades relacionadas.

Por exemplo, o programa de eliminação do carrapato dos bovinos realizado nos Estados Unidos, teve início em 1906, apenas 13 anos depois da comprovação da transmissão de agentes da “Tristeza Parasitária” pelo carrapato. Na época, o principal argumento de convencimento utilizado, foi de que seria obtido grande benefício econômico com o sucesso da campanha. Em 1943, 99% de todo o território foi considerado livre. A relação custo-benefício calculada foi de 1/140, ou seja, 140 dólares de retorno para cada dólar de capital investido.

O fato histórico citado não permite concluir que o Brasil deve adotar as mesmas medidas utilizadas pelos Estados Unidos. Muito possivelmente, a forma de condução mais adequada para a realidade brasileira será outra, já que as condições enfrentadas são muito diferentes. Entretanto, essa e as demais experiências observadas em vários países até os dias de hoje, além das informações técnicas e científicas disponíveis, indicam claramente que aqui, grandes quantias em prejuízos estão sendo incorporadas de forma deliberada. O produtor faz o que pode, como pode.

As perdas ocorrem das mais diversas formas, todas em conseqüência de espoliação, lesões, dor, contato com toxinas e transmissão de doenças, provocadas pela ação parasitária. Isso se traduz em perda de energia, reações de defesa do organismo, perda de apetite, prostração e, nos casos extremos, mortalidade.
É importante abrir um parêntese e ressaltar que, por convenção, são classificados como parasitos apenas os vermes, artrópodes e protozoários que estabelecem esse tipo de relação ecológica.

Continuando... Além das mortes e dos gastos com tratamentos, que são facilmente observados, as parasitoses impõem perdas difíceis de serem percebidas. São as perdas potenciais ou prováveis prejuízos, que de prováveis não tem muita coisa. A redução do desempenho produtivo dos animais é certa, mas não é fácil considerar aquilo que se deixa de ganhar.

Estudos demonstram que vacas que não recebem vermífugo no período do pré-parto podem deixar de produzir até 1 litro de leite por dia durante toda a lactação. Durante um ano, a ação de carrapatos provoca, em média, redução de 90,24 litros de leite por vaca em lactação em Minas Gerais. A presença de 20 a 40 bernes em um animal provoca a perda de 9 a 14% de peso vivo e, se as perfurações forem localizadas em área nobre, também a perda do valor comercial do couro. Ainda não existem estimativas do impacto na atividade reprodutiva.

Afora tudo o que já foi citado, ainda é preciso considerar a questão como determinante do bem estar animal e da qualidade do produto final, sendo, portanto, um aspecto prioritário relativo às boas práticas agropecuárias. A presença de resíduos de pesticidas e medicamentos nos produtos de origem animal, e no ambiente, representa risco à saúde pública e ao ecossistema. A demanda do mercado consumidor por produtos livres de resíduos e contaminantes é uma tendência mundial e tem sido responsável pelo estabelecimento de barreiras sanitárias, com reflexos em toda a cadeia produtiva.

O mais recente estudo, sobre os potenciais prejuízos financeiros no Brasil, chegou ao valor de quase 14 bilhões de dólares em um ano, o que significa aproximadamente 10% do PIB de toda atividade pecuária. No levantamento, foram consideradas apenas seis das principais parasitoses e quatro formas de perda, a saber: redução dos índices de ganho de peso e de produção de leite; depreciação do couro, apenas para o berne, e mortalidade de bezerros, apenas por bicheira de umbigo (Tabela 1.). Ou seja, o valor obtido pode ser considerado, no mínimo, subestimado. Certamente, o Brasil é um dos países mais atingidos do mundo (Figura 1.). O que ainda será preciso para que a questão, aqui, seja abordada de forma institucional?

Difícil responder a essa pergunta. As informações estão aí, disponíveis para quem se interessar.

Esperamos que esta análise tenha proporcionado ao leitor uma noção inicial da dimensão do problema e da importância de se minimizar seu impacto econômico. Quem sabe, com isso, possamos envolver um maior número de pessoas e contribuir para a construção de uma discussão mais ampla sobre assunto.

Por hora, ficamos por aqui. Nos próximos artigos serão abordados outros temas importantes, relacionados às parasitoses em rebanhos leiteiros, dentre os quais: Carrapato dos bovinos: o passo a passo do controle estratégico; Mortalidade de bezerros por “Tristeza Parasitária”, como evitar; Princípios básicos do manejo da resistência aos medicamentos e pesticidas; Destinação de resíduos sólidos e o controle de moscas, entre outros. Gostaríamos de agradecer as instituições que dão suporte ao nosso trabalho: FAPEMIG, CNPq e INCT Pecuária. Até breve!
 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

DANIEL SOBREIRA RODRIGUES

Pesquisador da área de Controle de Ecto e Endoparasitoses da EPAMIG. Doutor em Ciência Animal, pela Escola de Veterinária da UFMG.

ROMÁRIO CERQUEIRA LEITE

Professor Titular da Escola de Veterinária Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1988).

7

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

ANTONIO MUNIZ FILHO

ROLIM DE MOURA - RONDÔNIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/10/2014

MUITO BOM, PARABENS PELO TRABALHO.
DANIEL SOBREIRA RODRIGUES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 03/06/2014

Caro Darlani, concordo com você. Acredito que o governo pode criar mais formas de ajudar o produtor e que os produtos influenciam negativamente o custo de produção da atividade, que já é alto. Além disso, descartar leite é um negócio muito complicado. O prejuízo é grande demais e por isso, carência zero é um negócio muito interessante.



Agora, a maior parte dos produtos deixa resíduo por algum tempo e/ou apresenta baixa eficiência por causa da resistência dos parasitos, não é mesmo?



Nesse caso, acho que o caminho seja mais pro lado do uso racional do que pela disponibilização de novos produtos. Se não usamos de forma adequada, não adianta, a situação continua do mesmo tamanho ou piora. O uso indiscriminado é o principal responsável pela perda do efeito de medicamentos e pesticidas, no campo.
DARLANI PORCARO

MURIAÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/06/2014

Precisamos , é ter no mercado , ainda mais quem tira leite , produtos de carência zero , isto é, que não deixa resíduo no leite , com  preços acessível  ao produtor com menos renda , e o governo ajudando,  não cobrando impostos sobre eles,  pois estes produtos ajuda  ao consumidor,  mas o custo ao produtor é alto.
LAERCIO DE OLIVEIRA

LUZ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/06/2014

gostaria que me falasse do diflai.ou difrai,que é um po que poe no sal minerel.
ROMÁRIO CERQUEIRA LEITE

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 03/06/2014

Olá Ciro,

de fato,existem tecnologias comprovadas de preparados com antígenos vivos de Babesia bovis, B.bigemina e Anaplasma marginale para o enfrentamento dos problemas causados pela tristeza parasitaria bovina.Na região sul do país,Argentina e Uruguai, são intensamente utilizados em função da estacionalidade do carrapato do boi ,que gera grande quantidade de animais nascidos que não adquirem imunidade passiva colostral pelo fato das mães passarem o inverno sem carrapatos,portanto não produzirem anticorpos suficientes para proteger suas crias das infestações e infecções pelas plasmoses à partir da primavera.



Por este fato, produtores e instituições de pesquisa da região, encontram-se preparados para enfrentar o problema.Não é o caso da região do Brasil Central, Sudeste e Centro Oeste.No nosso caso,que é região endêmica para o carrapato e para as plamoses, ou seja, temos carrapatos infestando  e transmitindo plamoses para nossos animais pelo ano todo.Assim, todos os animais nascidos na região,de uma maneira geral, além de receberem o colostro ao nascimento, rico em anticorpos anti-plasmose,infectam-se naturalmente através dos carrapatos emoscas hematófagas,pelos agentes das plamoses até no máximo 11 semanas após o nascimento.



Animais criados sob uma boa condição de manejo e alimentação,infectam-se, sofrem uma doença leve e recuperam-se naturalmente.Apenas uns poucos animais sofrem um quadro mais severo das plamoses que ,em geral, respondem bem aos tratamentos com tetraciclinas , diminazeno ou imidocarbe.Se os quadros de plasmoses se apresentam graves em fazendas tipicas de nossa região, alguma coisa de muito errado esta ocorrendo no manejo das fazendas!Principalmente em relação ao manejo da vaca no pre parto, do colostro, alimentação dos animais jovens ou mesmo excesso de carrapatos e moscas!!Assim, alem do tratamento dos animais doentes, o manejo tem que ser corrigido para evitar os problemas das doenças!!



A situação modifica-se muito nas fazendas de maior nível tecnológico, quando aumentam as praticas de confinamento,distanciando os animais das condições naturais, afastando-os dos carrapatos e moscas, impedindo a infecção precoce própria do que ocorre nas áreas endêmicas.Neste caso,a utilização das "vacinas" torna-se quase que obrigatória,o que exige a  infra estrutura de tanque de nitrogênio liquido para armazenar a vacina que é composta de organismos vivos atenuados, portanto de manejo delicado e uma assintencia técnica especializada no controle das plasmoses.



Estas condições,tem limitado muito o uso das "vacinas" contra as plamoses no Brasil Central.
PAULO CESAR DIAS THOMAZELLA

SOROCABA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 03/06/2014

Bom Dia.Parabéns pela matéria divulgada.

Em relação a pergunta do colega Ciro Araujo:

-Apenas um laboratório produz as doses no País,o Hemopar,de Santana do Livramento,no RS.O IPVDF(Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor),deixou de produzi-la em 2011.Há dois tipos de vacina,a atenuada refrigerada e a atenuada congelada.A primeira deve ser utilizada em até cinco dias após a sua produção e não permite testes antes da utilização no campo.A congelada é testada previamente e pode ser utilizada por um período de até três anos,por ser conservada no nitrogênio líquido.

Fonte:Mundo do Leite(A Revista do Mercado Lácteo)

Fevereiro/Março.Ano 11 . número 65

Espero poder ajudá-lo com essas informações.

Um abraço aos pesquisadores que muito nos ajudam pois trabalho no campo e todas as informações são muito bem vindas.

Que DEUS abençõe sempre vocês.

Paulo Thomazella
CIRO ARAUJO FOGAÇA

GOIÂNIA - GOIÁS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 02/06/2014

Salve!

Parabéns pelo trabalho postado e fico no aguardo dos outros artigos, que são bons os temas.



Não existe uma vacina contra a "tristezinha", mas por algum motivo não foi para frente? - Eu ouvi falar que estava em teste a vacina, mas isso já deve ter feito uns 2 anos.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures